segunda-feira, 4 de junho de 2007

HUMOR OU RUMOR, SEJA COMO FOR: VIVA!!!

Ao longo dos anos tenho desenvolvido uma percepção muito particular sobre a vida. Viver é um jogo que se joga em duas direções: na primeira, se vive do humor; na segunda, do rumor.
Quão estranho, mas familiar, pode soar essa afirmação. Duas palavras que por uma única letra mudam totalmente de sentido. Peça licença a gramática e escreva cada palavra sem a primeira letra, o que resta: umor. Feito isso, brinque com as letras de cada palavra. Então pense em palavras iniciadas com h ou r.
Quem trilha um caminho pautado no humor se transforma em alguém mais humano, humilde, hilário, honesto, habilidoso, harmônico... Quem anda por outra direção encontra o caminho do rumor e ai vê-se frente a ruínas, rusgas, rebeliões, ressentimentos, repressões, retaliações, revoltas, raivas ...Bem, de que mesmo devo falar? Será que é do humor ou do rumor? Será este um espaço apropriado prá filosofar? Desculpe a viagem, mas falar sobre favela e as coisas que circundam seu universo é ou não falar sobre humor e rumor? Qual dos três personagens que todos temem numa favela? O traficante, o policial ou o fofoqueiro? Não sabem? Prá mim é o fofoqueiro. Explico-me melhor: o fofoqueiro é mais temido, porque de sua boca fatalmente surgirá algo que, dependendo do teor, terminará numa roda de conversa onde todos rirão de sua imaginação fértil, ou então, poderá desaguar num rumor que desestabilizará antigas relações ou mesmo culminar numa fatalidade. Posta essa observação, acho que chego aqui onde queria. Deixemos o rumor de lado e falemos da vida de forma prazerosa. Ser favelado não é um estado de pobreza, visto que pobreza não é o antônimo de riqueza, mas sim o sinônimo de fraqueza. Não nos consideremos pobres, pois se sonhamos e lutamos por nossos sonhos, somos agentes de mudança. Se vivemos e acreditamos que a vida devia ser melhor, faça como o poeta, simplesmente diga: será! Será porque nosso humor traz em sua essência a pólvora necessária para destruir esse indigesto abandono social e financeiro. Sambar, cantar, brincar, amar, sorrir é a forma que encontramos para caçoar sobre os desmazelos desta elite inconseqüente. Somos nós os favelados que mantemos os ricos menos mal-humorados, pois limpamos suas privadas, dirigimos seus carrões, lavamos e cozinhamos pra eles, tudo isso por míseros 150 reais. E se a elite branca e "macha" faz rumor sobre nosso cotidiano, ensinemos a eles que o certo não é o que eles pensam sobre nós, mas o que eles não sabem sobre o porquê de vivermos felizes apesar deles. Com humor, nós favelados construiremos o amor e paz. Com rumor a elite continuará fazendo passeatas em orlas marítimas cada vez que um de seus filhos for seqüestrado ou assassinado.

Caio Ferraz Sociólogo, Fundador da Casa da Paz de Vigário Geral. Exilado desde 1995 nos EUA. Flórida, 8 de Janeiro de 2001

Nenhum comentário: